Entrevista com Milton Gustavo

Entrevista com Milton Gustavo, autor do romance O Deus oculto no canto do córner, agora em segunda edição (Sator, 2025). A entrevista foi realizada por e-mail. As perguntas foram elaboradas por Dixon Brooks.

1. Você se considera maluco?

Não me considero maluco. Mas nenhum maluco se considera maluco, não é? Quando o maluco se acredita maluco, geralmente é charme.

2. Se pudesse trocar de lugar com algum escritor, em algum momento, qual escritor escolheria e em que momento?

Gostaria de trocar de lugar com o Faulkner no dia em que se despediu de seus cavalos para ir a Estocolmo receber o Nobel e, depois, ao voltar, quando teve que se explicar a um amigo quitandeiro por não ter passado para pagar uma compra que havia deixado pendurada.

3. Quais suas desinfluências (livros tão bostas que você aprendeu o que não fazer)?

Qualquer livro que “denuncie” qualquer coisa e que “desperte uma profunda reflexão” sobre qualquer outra coisa e, por último, mas não menos insuportável, os que “levam a linguagem ao limite”.  Nos primeiros dois grupos, o autor pensa que é dono do público e quer colonizá-lo (para usar a expressão que usaria se fosse um desses senhores), no último, o camarada esquece que o público existe.

4. Sua mãe lhe considera um gênio?

De modo algum. Minha mãe me elogia muito pouco, em geral pelas costas. Acho que ela me considera um burrão bonito.

5. Se pudesse ter nascido em alguma outra época, qual escolheria? (Lembrando que antes dos anos 30 não havia geladeira em casa).

Geladeira é importante, de fato, mas aceitaria ficar sem, desde que morresse antes do brasileirão de pontos corridos, do surgimento do cardápio Qr Code e do dia em que acabaram com a Montilla casco marrom.

6. Já saiu na mão na rua?

Já sim, na infância e adolescência. Hoje, adulto, vez por outra penso em dar uma sudenga em alguém (a última vez foi domingo), mas então me vem a lembrança de que vivemos um mundo totalmente projetado para proteger almofadinhas provocadores.  

7. Já achou que literatura é coisa de bocó?

Não. Só um bocó pode achar literatura coisa de bocó e o fato de que bocós não leem prova o contrário. Sócrates chamaria isso de “o paradoxo do bocó que não gosta de ler porque acha que é coisa de bocó”.

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