Todos me avaliam, mensuram, somam
os atributos e os glóbulos.
A cabeça e justamente os olhos.
A lucidez me dói
como um revés
de não ser nada disso,
de não levar o chapéu nos comícios,
o chapéu do argumento nítido
que cabe na frase ou na testa.
Medem-me, terreno
a ser comprado e arado
e se o for, o endereço
não será o do amor.
Somaram-me
na regra do sabre
ou na coronha
dos princípios nobres.
Não valho o que me pagam.
Não valho nada. Sou álamo
na praça, asno de encomenda
e para que sirvo
senão ser álamo e asno,
montado, desmontado
pelos deuses que fardo?
Não valho. E não aceito
o que me pagam
(Ordenações, 1969–71.)

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